Mãe é mãe, avó é avó

31 de janeiro de 2011

É consenso que as avós representam sabedoria, experiência, afeto e carinho. Mas, quando os netos entram em cena, em alguns momentos essa relação pode desandar e, de repente, explode um atrito. Nada mais natural. De um lado, a mãe e o pai impõem uma série de regras na hora de criar os filhos. Do outro, o avô e a avó distribuem mimos que parecem colocar tudo a perder – e, às vezes, querem instituir sua própria cartilha de educação. Para escapar dessa saia-justa, a primeira regra é conhecer a função de cada personagem na história. “Costumo dizer que o papel dos pais é educar os filhos e o dos avós é estragar os netos”, diz, brincando, a psicóloga Angélica Capelari, professora da Universidade Metodista de São Paulo. Por estragar, entenda dar carinho, amor, proteção e muitos presentes. 

A psicóloga clínica Mara Pusch, da Universidade Federal de São Paulo, concorda: “A responsabilidade da educação é dos pais, e esse é um dos motivos pelos quais os netos e os avós se entendem tão bem”. Quando essas funções estão bem claras, fica mais fácil lidar com os desafios que aparecem. Um exemplo: você não precisa se descabelar diante de uma infração cometida pela criança sob a batuta dos avós. Afinal, eles estão aí justamente para atender os caprichos dos netos e planejar, com os pequenos, perdoáveis atos de rebeldia. “Se existir respeito pelos critérios e hábitos estabelecidos pelos pais, não haverá prejuízo para a autoridade paterna”, diz Mara.

Com o tempo, você também vai descobrir que a avó – aquela figura que, inicialmente, parecia tão implicante ou dona da razão – é quase uma enciclopédia de dicas sobre a maternidade. E, convenhamos, não dá para desprezar tanta sabedoria. “Como a avó tem mais experiência, ela pode ser uma boa fonte de consultas nos casos em que a mãe não sabe como agir com a criança”, diz a psicóloga Olga Inês Tessari, de São Paulo. O problema surge quando a mais velha, por se considerar pra lá de experiente, quer tomar conta da situação, não respeitando as regras da mais nova. Aí, você tem duas táticas a seguir. 

A primeira é abrir o jogo e ter uma conversa bem franca com a avó, seja ela a sua mãe ou a sua sogra. “Explique que aceita de bom grado os conselhos, mas prefere escolher você mesma de que forma vai agir com o filho”, sugere Olga Tessari. Trata-se de um diálogo difícil, lembra a especialista. Mas, se for bem conduzido, com calma, sem ofensas e com amor, traz bons resultados. Outra estratégia é fazer o que popularmente se chama de “ouvido de mercador” e filtrar o que diz a avó. Isso vale principalmente quando ela é do tipo que não dá brecha ao entendimento. “Nesse caso, o recomendável é simplesmente ignorar e fazer do seu jeito. Mas sem entrar em discussão ou provocar atritos”, aconselha Angélica Capelari.



FONTE: http://bebe.abril.com.br/familia/sermae/conteudo_250469.php

Médico não é monstro

24 de janeiro de 2011

Injeção, hospital, exame de sangue… Muita gente treme só de lembrar. Diante de uma agulha, então, surge o medo. Se esse tipo de reação ultrapassa os limites e impede de cuidar direito da saúde, então é uma forma de fobia. E toda fobia merece atenção.


"Sangue!” O tom aterrador da minha mãe e a parede manchada de vermelho são as lembranças mais nítidas da cena que protagonizei aos 3 anos. Eu tinha rolado escada abaixo segurando um copo de vidro. O corte rompeu o tendão do dedo mindinho, exigiu cirurgias e fisioterapia. Mas isso não foi nada perto do impacto psicológico. Mais de 20 anos depois, eu ainda dormia mal na véspera de fazer algum procedimento médico e, na hora agá, o coração saltava pela boca. Não podia ver sangue nem sequer no cinema: fechava os olhos. “Metade da tendência de desenvolver esse tipo de fobia é genética, mas enxergar o temor de pessoas da família na infância ou até mesmo vivenciar um evento traumático quando criança pode servir de estopim”, explica a psiquiatra Carolina Blaya, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. “Em média, 4% dos indivíduos sentem algo muito ruim diante de um ferimento ou até mesmo da necessidade de ir ao médico ou tomar uma injeção.”
Esse medo se manifesta, primeiro, como mal-estar físico, incluindo tonturas e desmaios (veja quadro à direita). “E, depois de uma experiência dessas, o sujeito pode passar a evitar clínicas, laboratórios e até cadeira de dentista. Isso, claro, deixa sua saúde à mercê da própria sorte”, analisa o psicólogo Gustavo D’El Rey, que pesquisa esse tipo de distúrbio em São Paulo. “Não é raro que mulheres com o problema desistam de engravidar só porque temem o parto”, exemplifica.
O psicólogo e especialista em saúde coletiva Romeu Gomes, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, se dedicou a estudar a origem desse comportamento no sexo masculino. “Os homens evitam buscar os serviços médicos principalmente devido ao medo de um diagnóstico negativo”, observa. E, para agravar, a ala masculina é culturalmente criada para demonstrar coragem. Essa cobrança é um fator impeditivo para que procurem auxílio, já que no consultório podem se tornar mais evidentes suas emoções e fragilidades. “Infelizmente, os profissionais de saúde nem sempre estão preparados para lidar com isso”, nota Gomes.
Tem gente que não suporta nem ao menos se lembrar do cheiro de um hospital. “O lugar é associado à expectativa e à dúvida em relação a um procedimento médico e, quando essa pessoa vai lá, sempre sente estresse e ansiedade”, afirma a enfermeira Cristiana Hussne, chefe do Pronto Atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Em outras palavras, a incerteza e a angústia se referem à possibilidade de sentir dor ou incômodo durante um tratamento. Já a aflição ao ver sangue estaria ligada a um sentimento de ameaça à integridade física e a pensamentos de morte. O importante é estar ciente e procurar ajuda quando esse tipo de raciocínio é paralisante.

Espírito de ano novo

13 de janeiro de 2011

Natal, Réveillon, calendário novo em folha, férias, verão... Entenda como o clima de festa e renovação desse período recompensa o seu organismo

Aproximidade do fim de ano mexe com os nervos. Cria um tipo de ansiedade com estímulos próprios que parece nos dar mais vontade de viver. É um estresse capaz de motivar as pessoas a fazer algo especial. As cidades ficam mais agitadas, e o trânsito, maluco. Todos correndo para poder... parar — e se entregar à família e aos amigos. Uma pausa para reunir quem se ama em torno da ceia de Natal e celebrar tanto o ano que se encerra como aquele que está por vir. Ou simplesmente um intervalo para descansar e mergulhar em um período de férias, que coincide com a chegada do verão. Tudo isso, claro, repercute em nossa saúde. 



Os cientistas explicam que a iminência das festas de fim de ano gera uma expectativa positiva. As luzes típicas dos festejos ativam áreas específicas do cérebro e desencadeiam processos saudáveis ao corpo. “Nessa época, a amígdala encefálica, encarregada de dar significado emocional a fatos e datas, está a mil por hora”, explica o psicobiólogo Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo. “O hipocampo, outra região cerebral, também trabalha acima da média porque é ele quem atribui importância às informações que a mente recebe. O resultado é a maior produção de neurotransmissores associados à sensação de bem-estar, como a endorfina e a serotonina.” Já na versão da neurologista Sonia Brucki, do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Associação Brasileira de Neurologia, a proximidade do fi m de ano aciona o mecanismo de planejamento futuro do cérebro em busca de recompensa. “Esse processo envolve os lóbulos frontais e as regiões límbicas, responsáveis pelo controle das emoções, e embute sensações agradáveis ligadas às emoções. Diante da expectativa de algo positivo, o cérebro gratifica o corpo com substâncias químicas associadas ao prazer.”

Dezembro fecha um ciclo estipulado por um calendário social. É um período em que se encerra o velho para dar início ao novo. Um momento para renovar promessas e esperanças. “Esse movimento mexe com a integralidade do indivíduo, que termina uma vida de um ano e começa outra. O cérebro percebe a mudança e a mente prepara o corpo para essa transformação”, ilustra Ricardo Monezi. O fim do ano também é um momento de repouso. Mas, para que a pausa revigore, é preciso realmente descansar. Dormir muito, calçar chinelos, desligar o telefone celular, sair sem relógio e comer só quando se tem fome são ações que indicam ao nosso coordenador fisiológico que o chefão está se dando um presente.

Segundo Monezi, o cérebro retribui o mimo com alívio da tensão muscular, diminuição da frequência cardíaca, melhora da qualidade do sono, redução da liberação de hormônios ligados ao bom estresse e aumento da produção de hormônios associados ao bem-estar. Agora, para que tudo isso se concretize, é preciso colaborar, como ensina a psicanalista Mara Salla, pesquisadora da PUC-SP: “Temos de ser verdadeiros conosco. Rir e amar durante cada ritual, de corpo e alma”.

RISCOS DE SER DO CONTRA 

O estresse de fim de ano pode ser também uma armadilha para o corpo. Encarar as celebrações como uma obrigação ou cultivar a aversão à data, claro, faz mal à saúde de qualquer um. Assim como sair de férias acelerado demais e preocupado com mil pendências. É que o cérebro recebe a informação de que está próximo de um evento frustrante e, daí, desencadeia a produção de hormônios como o cortisol, ligado ao estresse ruim. “A tristeza aumenta a intensidade e a permanência do cortisol no corpo, o que debilita o sistema de defesa e leva a doenças, principalmente as infecções oportunistas”, diz a psicanalista Mara Salla, do Laboratório de Estudos de Saúde e Sexualidade Humana da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em outras palavras, o que era para ser recompensa vira punição.

9 razões para não se privar de dormir

3 de janeiro de 2011

A insônia é uma doença. Mas dormir pouco, para muita gente, é uma opção. Opção que, segundo inúmeras pesquisas, causa um verdadeiro descompasso no organismo


Quando o computador invadiu os escritórios, no começo da década de 1980, quase todo mundo esperava realizar as tarefas profissionais rapidamente e, então, aproveitar o tempo de sobra para relaxar, ficar com os familiares, visitar os amigos. Mas aconteceu exatamente o contrário. A chegada das máquinas pessoais — e, depois, a popularização da internet — aumentou bastante a carga de trabalho. E os momentos destinados a atividades como ler um romance, ver TV e praticar um esporte invadiram a noite. “Quem saiu perdendo foi o sono, sempre deixado em segundo plano”, observa o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do Instituto do Coração de São Paulo. Isso é compreensível, afinal ninguém quer abrir mão das horas de diversão. Mas essa mudança de rotina é uma bomba-relógio para a saúde. “Estudos epidemiológicos provam que quem dorme pouco vive menos”, ressalta Dalva Poyares, neurologista do Instituto do Sono, em São Paulo. Justificativas para isso não faltam — você verá nove delas nas próximas páginas. A boa-nova é que, com certas atitudes (veja quais a partir da página 37), dá para garantir um tempo mínimo embaixo dos lençóis e, assim, aproveitar a vida por anos a fio.



1. ALTERAÇÕES GENÉTICAS
Quem deixa de pregar os olhos para ver aquele filme imperdível noite adentro pode mexer com uma das estruturas mais importantes do corpo: o DNA. “Essa privação aparentemente deixa a molécula mais frágil e suscetível a mutações”, explica a geneticista Camila Guindalini, do Instituto do Sono. E esse é o primeiro passo para o aparecimento de variados problemas, entre eles o câncer. O que mais surpreende os cientistas, entretanto, é que fi car poucas horas na cama altera nossa carga genética. “Restringimos o sono de animais só por quatro dias e percebemos que alguns de seus genes estavam mais ativos”, revela Camila. Os cientistas acreditam que essa seria a conexão entre dormir pouco e o desequilíbrio de várias funções corporais. 

2. PROBLEMAS SEXUAIS
A biomédica Monica Andersen, da Universidade Federal de São Paulo, reduziu o horário de descanso de ratos machos por alguns dias. Em seguida, analisou o comportamento dos roedores com suas parceiras. “Apesar de terem desejo, os bichos não conseguiam fazer a penetração”, relata a pesquisadora. Agora, será que essa afirmação também vale para seres humanos? A resposta, infelizmente, é sim. Homens que têm como hábito trocar o travesseiro pela leitura ou por um bate-papo na internet, só para citar exemplos corriqueiros, têm um risco três vezes maior de sofrer com disfunção erétil. “Um dos motivos é a diminuição dos índices de testosterona”, esclarece Monica. “O surpreendente é que as taxas do hormônio sexual masculino só voltam ao normal sete dias após a noite maldormida”, acrescenta. 

3. MAIS DOR
Quem consome boa parte do período noturno em claro pode ficar extremamente sensível a toques, esbarrões e qualquer pequeno machucado. Também é comum os notívagos sentirem o corpo todo dolorido, como se tivessem exagerado na academia. “Durante o repouso, o cérebro secreta substâncias como serotonina, dopamina e endorfina”, ensina Páblius Staduto Braga, reumatologista do Hospital Nove de Julho, na capital paulista. “Níveis baixos dessas substâncias relaxantes estão associados a respostas dolorosas”, complementa. O problema é que, às vezes, esse baita incômodo gera insônia, além de prejudicar a qualidade das poucas horas dormidas. “Cria-se um ciclo vicioso difícil de ser quebrado, especialmente em casos de fibromialgia. Aí, muitas vezes temos que lançar mão de medicamentos”, avalia Staduto Braga.

FIBROMIALGIA 
Essa doença se caracteriza por dores contínuas e generalizadas. Não se sabe exatamente o que a desencadeia, mas — adivinhe! — um dos possíveis fatores de risco é manter os olhos arregalados quando eles deveriam estar fechados. “Por outro lado, o próprio distúrbio altera o padrão do sono, fazendo com que a pessoa já acorde cansada”, diz Staduto Braga. Sem contar que a fibromialgia facilita o surgimento de transtornos psiquiátricos relacionados a dificuldades para adormecer. Um exemplo é a depressão.